terça-feira, 31 de maio de 2011

O SOL E A LUA



By Silvana Duboc



Quando o SOL e a LUA se encontraram pela primeira vez se apaixonaram perdidamente e a partir daí começaram a viver um grande amor.
Acontece que o mundo ainda não existia e no dia que Deus resolveu criá-lo, deu-lhes então o toque final... o brilho !
Ficou decidido, também, que o SOL iluminaria o dia e a LUA iluminaria a noite, sendo assim, seriam obrigados a viverem separados.
Abateu-se sobre eles uma grande tristeza quando tomara conhecimento de que nunca mais se encontrariam.
A LUA foi ficando cada vez mais amargurada, mesmo com o brilho que Deus havia lhe dado ela foi se tornando solitária.
O SOL, por sua vez, havia ganhado um título de nobreza "ASTRO REI", mas isso também não o fez feliz.
Deus então chamou-os e explicou-lhes:
Vocês não devem ficar tristes, ambos agora já possuem um brilho próprio.
Você LUA, iluminará as noites frias e quentes, encantará os enamorados e será diversas vezes motivo de poesia.
Quanto a você SOL, sustentará esse título porque será o mais importante dos astros, iluminará a terra durante o dia, fornecerá calor para o ser humano e a sua simples presença fará as pessoas mais felizes.
A LUA entristeceu-se muito com seu terrível destino e chorou dias a fio, já o SOL, ao vê-la sofrer tanto, decidiu que não poderia deixar-se abater pois teria que dar-lhe forças e ajudá-la a aceitar o quehavia sido
decidido por Deus. No entanto sua preocupação era tão grande que resolveu fazer um pedido a ELE:
"Senhor, ajude a LUA por favor, ela é mais frágil do que eu, não suportará a solidão"
e Deus em sua imensa bondade criou então as estrelas para fazerem companhia à ela.
A LUA sempre que está muito triste recorre às estrelas que fazem de tudo para consolá-la, mas quase sempre não conseguem.
Hoje eles vivem assim,  separados, o SOL finge que é feliz, a LUA não consegue esconder que é triste.
O SOL ainda esquenta de paixão pela LUA e ela ainda vive na escuridão da saudade.
Dizem que a ordem de Deus era que a LUA deveria ser sempre cheia e luminosa, mas ela não consegue isso, porque ela é mulher e uma mulher tem fases.
Quando feliz consegue ser cheia, mas quando infeliz é minguante e quando minguante, nem sequer é possível ver o seu brilho.
LUA e SOL seguem seu destino, ele solitário mas forte, ela acompanhada das estrelas, mas fraca.
Humanos tentam a todo instante conquistá-la, como se isso fosse possível.
Vez por outra alguns deles vão até Ela e voltam sempre sozinhos, nenhum deles jamais conseguiu trazê-la até a terra, nenhum deles realmente conseguiu conquistá-la, por mais que achem que sim.
Acontece que Deus decidiu que nenhum amor nesse mundo seria de todo impossível, nem mesmo o da LUA e o do SOL, e foi aí então que ele criou o eclipse.
Hoje SOL e LUA vivem da espera desse instante, desses raros momentos que lhes foram concedidos e que custam tanto a acontecer.
Quando você olhar para o céu, a partir de agora, e ver que o SOL encobriu a LUA é porque ele deitou-se sobre ela e começaram a se amar e é ao ato desse amor que se deu o nome de eclipse.
Importante lembrar que o brilho do êxtase deles é tão grande que aconselha-se não olhar para o céu nesse momento, seus olhos podem cegar de ver tanto amor.
Bem, mas na terra também existe sol e lua, e portanto existe eclipse, mas essa era a única parte da história que você já sabia, não era?


segunda-feira, 30 de maio de 2011

A RAZÃO E A EMOÇÃO






By Silvana Duboc



Ninguém jamais conseguiu explicar como foram criadas as almas gêmeas, mas eu me lembro bem dessa história.
Estavam lá no céu todas as almas, umas eram somente razão, outras somente emoção,
duas filas distintas. Finalmente, chegou a minha vez de ser colocada em uma das filas.
Olhei para ambas e me identifiquei com a da razão, acontece  porém, que avistei você na da emoção e meus olhos brilharam, foi como se fosse um imã a me puxar.
Aproximei-me do Criador e lhe disse:
- Eu gostaria de ficar na fila da emoção, pode ser? É que existe uma doce alma por lá que me encantou.
- Está bem - disse-me Ele - você até poderá escolher seu lugar, mas antes quero lhe explicar algo, depois então você fará a sua opção.
"Existem almas que são gêmeas, tudo nelas é igual, a única diferença que eu coloquei foi a razão e a emoção, justamente para que elas possam se completar. É como se fosse um encaixe.
Possuo uma grande percepção para distinguir as almas gêmeas e por isso entendi que aquela que se encontra ali na fila da emoção é a sua, (Ele falou apontando você)  daí querer colocá-la na da razão.
Caso vocês fiquem juntas, o encanto das almas gêmeas se acabará, ao passo que se ficarem separadas, ele permanecerá.
No entanto, devo lhe contar algo. As almas gêmeas, nem sempre se encontram, porém vivem sempre unidas pelo coração e por elas próprias. Por outro lado, quando se encontram, jamais se separam. Nem mesmo eu consigo executar esse afastamento."
Entendi naquele momento que a razão não sobrevive sem a emoção e a emoção, por sua vez, precisa da razão para viver.
Nesse instante fiz a minha escolha:
- Prefiro a fila da razão !
Encaminhei-me para o meu lugar, me posicionei e nesse mesmo instante, você, que não tinha até então percebido a minha presença, olhou-me e sorriu!
Hoje eu sou a razão, você a emoção, eu te dou o chão e você me leva à lua.
Hoje eu entendo o que o Criador quis me dizer com "... é como se fosse um encaixe."
Hoje eu sou a razão correndo atrás da emoção e você a emoção pedindo aos céus que eu possa pertencer a mesma fila que você, mas o que você não sabe é que fui eu mesmo
 quem escolheu o meu lugar, só para ser a sua alma gêmea.
O que você não sabe é que  mesmo antes de pertencer a qualquer uma das filas eu já te amei.
Quando voltarmos para o lado de lá você há de entender tudo isso e se eu puder escolher uma das filas novamente eu ainda vou querer ficar separada de você.
A  única diferença é que escolherei a fila da emoção para sonhar como você e que você fique na da razão para entender como eu sofri. 


domingo, 29 de maio de 2011

APENAS UMA CARTA DE AMOR





By Silvana Duboc



Apesar das dores que você me causou
e das feridas que em minh'alma abriu
meu coração já o perdoou
e em busca de outro rumo já seguiu.
Eu confesso que foi difícil me conformar
quando percebi que você ia me deixar.
É, eu soube com antecedência
que teria que enfrentar a sua ausência.
Foi ficando cada vez mais difícil você carregar
uma história que não tinha mais pernas pra caminhar
e desculpas você já não tinha para me dar.
Confesso, eu fui deixando rolar
mesmo sabendo que logo tudo iria terminar.
Nunca vou saber se você sofreu
tanto, menos ou até mais do que eu
por termos nos separado,
esse segredo com você ficará guardado.
Quanto a mim o sofrimento foi tão profundo
que eu me perdi dentro do meu mundo,
eu tive vontade de desaparecer
para aliviar o meu sofrer.
Houve dias que ao acordar
eu achei que da cama não conseguiria levantar
e o pior é que precisava disfarçar
pois com ninguém eu podia conversar.
Você sabe a vergonha que eu tinha de revelar
por tudo que eu estava passando
por isso fui obrigada a me calar
e a vida, aos olhos dos outros, continuar levando.
Meus sorrisos nunca se apagaram,
a duras penas cada vez mais eles se iluminaram
mas meu corpo, a quem bem me conhece, revelou
que dentro de mim um grande sonho naufragou.
A gente disfarça até onde pode disfarçar,
engana até onde consegue enganar
mas existe um limite dentro de nós
que é impossível de driblar. 
Pode não parecer, mas isso é uma carta de amor
e está sendo escrita em cima de uma dor
que tenho tentado muito curar,
mas entendo que ela precisa de tempo para acalmar.
Penso que se nas horas alegres eu lhe escrevi
então eu tinha o direito de vir aqui
falar também da minha tristeza
e dos meus momentos de fraqueza.
Não me envergonho por tê-lo amado, 
por ter de corpo e alma me entregado,
não me arrependo de ter sonhado
e com seus sonhos ter colaborado.
Não pretendo riscar do meu coração
um verdadeiro sentimento
que foi paz, alegria e solução 
durante um longo tempo.
Escrevi essa carta também pra lhe contar
que ouvi em algum lugar
algo que não pude deixar de registrar;
"a separação também pode ser
parte de uma história de amor"
e se essa história foi só minha,
com certeza, também foi a dor,
mas o que importa
é que eu intensamente a vivi
e disso não me arrependi.
O que importa é que a tristeza persiste
mas, como eu já disse,
enfim eu o perdoei
porque sem lhe dar o perdão
viver para mim
seria um ato de destruição.



EDELWEISS







By Silvana Duboc



E é no início do ano de 1939 que começa a nossa história.
Vivíamos na Áustria, um país coberto por flores, eu, meus pais e meu irmão. Éramos a imagem da família feliz, unida e entre nós reinava a certeza que nada na vida conseguiria nos separar, mas não foi bem assim.
Meu pai era um cirurgião de renome, minha mãe professora, daquelas dedicadas, que lecionava por puro amor aos seus alunos.
Eu tinha, então. dez anos e meu irmão quinze. Nossos dias e nossas noites eram muito alegres. Meus pais tinham o hábito de nos levarem até a varanda de nossa casa após o jantar para vermos as estrelas e enquanto fazíamos isso cada um ia contando as coisas boas que haviam acontecido no seu dia. Não que não pudéssemos contar as ruins, mas é que naquela época das nossas vidas só aconteciam coisas boas.
Não me recordo de algum dia ter visto um deles triste.
Depois que contávamos tudo e que admirávamos bastante as estrelas, cantávamos ao som do violão do meu irmão. A primeira música sempre era Edelweiss, linda, sonora, trazia paz aos nossos corações.
Ah! como era bom cantar Edelweiss junto da minha família e debaixo das estrelas, eu tinha a sensação que poderia fazer aquilo a vida toda sem jamais enjoar.
Mas, enfim, o tempo foi passando e veio a guerra e só se ouvia falar em Hitler e eu não entendia bem que homem era aquele, nem o que ele representava e então eu continuava todas as noites olhando para as estrelas junto das pessoas que eu mais amava.
Um dia, um terrível dia de dezembro que jamais esquecerei, tivemos que partir. Me lembro que meu pai veio até nós e nos disse delicadamente:
"Vamos ter que passar algum tempo sem ver as estrelas no céu"
Fomos covardemente arrancados de nossa casa por soldados, fomos levados a um local que viria a ser a nossa nova casa, chamava-se campo de concentração.
Lá, não fomos felizes e lá eu pude ver pela primeira vez o semblante da minha família triste, nem pareciam aquelas pessoas adoráveis que conviviam comigo naquela varanda.
Todas as noites eu dizia à minha mãe que queria ver as estrelas, cantar sob elas e ela me respondia com lágrimas nos olhos que durante um pequeno período a única estrela que eu poderia ver era a que eu trazia pendura no pescoço, de seis pontas, tão linda quanto as que brilhavam no céu.
Acontece que minha mãe se enganou, não foi um período tão curto assim que ficamos por lá e com o tempo foram me levando muito mais coisas além das estrelas do céu, foram me levando tudo.
Levaram-me a estrela do pescoço também, levaram meus pais para um banho do qual eles nunca mais voltaram, levaram meu irmão dentro de um trem que eu nunca soube para onde foi, levaram o meu sorriso, a minha alegria de viver, levaram a minha infância, só não levaram a minha voz e por isso, todas as noites ao deitar, eu fechava os olhos e cantava baixinho Edelweiss e aí eu podia ver as estrelas, o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, a varanda da nossa casa.
A minha imaginação eles também não conseguiram levar.
Hoje eu tenho a absoluta certeza que realmente eu nunca teria me cansado de cantar na varanda com a minha família, que eu, de forma alguma, abandonaria o meu país, que minha mãe foi a pessoa mais doce que eu conheci, que meu pai foi a imagem da dignidade, que meu irmão foi o meu grande companheiro e que tocava violão como ninguém.
Hoje eu sei a verdadeira razão das lágrimas de meus pais ao se despedirem de mim apenas porque iriam tomar um banho e o motivo do abraço tão apertado que meu irmão me deu naquela tarde em que foi colocado dentro daquele trem.
Hoje eu sei de tantas coisas que eu não queria saber, sei que os homens podem agir como animais ferozes, sei que raças, credos, religiões, são apenas subterfúgios que o homem usa para deixar o leão que existe dentro deles despertar.
Hoje eu sei que o tempo é poderoso, mas não tão poderoso a ponto de apagar qualquer coisa que tenha sido muito boa ou muito ruim.
Hoje eu sei finalmente, que a saudade é o campo de concentração do coração.
Hoje eu sei que o maior tesouro que existe na vida é a paz.
Shalom!

  
Dedicado a todos os judeus que tiveram as suas vidas exterminadas durante Holocausto e às suas famílias que sofrem por essas perdas até hoje.








sábado, 28 de maio de 2011

RESERVA DE AMOR





By Silvana Duboc



Minha inesgotável reserva de amor
se renova quantas vezes preciso for,
por isso eu sou capaz de amar errado,
estraçalhar meu coração
e depois vê-lo consertado.
A capacidade da minha emoção
é algo absolutamente inusitado,
por ela meu querer é sustentado
e meu precisar esquecer é auxiliado.
Eu faço do amor uma célula que se reproduz,
que dentro de mim se multiplica e reluz.
Aceito o jeito estranho do amor
que mais se parece com o de um passarinho,
ora voa pra longe em busca de um novo ninho,
ora vem ao meu encontro recoberto de carinho.
Hoje lido com ele sem temor, sem dor,
sempre tentando entender
que amor não é eterno porque não sabe ser.
Eterno é o sabor das noites que passo embalada
por mãos que fazem com que eu me sinta amada.
Eterna é a carícia que me é dedicada,
eterno é o orgasmo que me leva à lua
envolto em desejo e ternura.
Amor tem costumes interessantes
não sabe durar infinitamente, dura instantes,
não sabe se fixar, é itinerante.
Enfim, aprendi a lidar com esse sentimento
nos seus piores e melhores momentos,
quando ele aparece e quando some,
quando ele tem sede e tem fome,
quando ele acorda e quando dorme,
quando ele rasteja e quando corre,
quando ele nasce e quando morre.



segunda-feira, 23 de maio de 2011

A MENINA DOS TEUS OLHOS VERDES


By Silvana Duboc


Eu me comprometo,
embora, talvez não seja a primeira,
a te fazer feliz,
a ser a tua eterna companheira
mas, principalmente, ser a derradeira.
Eu me comprometo a ser o teu eterno amor,
a tua sombra em momento de calor,
o teu sorriso e a tua alegria.
Eu me comprometo noite e dia
a estar do teu lado,
mesmo quando tu quiseres ficar calado.
Eu me comprometo a ajudá-lo
a carregar as tuas dores
e a aliviá-lo dos teus temores.
Eu me comprometo a não te abandonar,
não te esquecer, não me afastar.
Eu me comprometo a nunca te deixar.
Eu me comprometo a ser o teu órgão vital,
teu destino principal, 
tua melodia afinada,
teu alimento e tua água.
Eu me comprometo a ser tua mulher,
a ser, também, a tua criança,
ser sempre a tua esperança
e a encurtar nossas distâncias.
Eu me comprometo a ser 
a menina dos teus olhos verdes, 
a matar a tua sede,
a afogar teu coração
em um tsunami de emoção.
Eu me comprometo, finalmente, 
de na tua vida ser frequente,
ser eterna e inesquecível
e não deixar meu amor por ti
se tornar perecível.


COMO SE FAZ PARA PERDOAR



By Silvana Duboc





Como se faz pra perdoar
o que, às vezes, insiste em nos torturar?
E será que é preciso perdoar
o que sempre vai nos incomodar?
Temos limites, escala de valores,
por isso certas dores
não podem ser esquecidas,
certas mágoas são impossíveis
de serem removidas.
Claro, o perdão é necessário
e oferecê-lo a alguém é extraordinário.
Mas não podemos nos violentar,
e absurdamente nos obrigar
a dar nosso perdão
em todo tipo de situação.
Existem acontecimentos em nossas vidas
que nos abrem feridas
que um dia até param de sangrar,
mas jamais conseguem cicatrizar.
Devemos tentar dar o perdão,
mas há que se entender
que nem sempre pode ser.
Nunca chegaremos a ser perfeitos,
portanto temos esse direito.
Perdoar é divino,
é, sobretudo, um remédio
para uma alma em desalinho.
Porém, não exija de você mesmo,
tal atitude divinal.
Você é antes de tudo
um ser humano normal,
passível de fraquezas e defeitos.
E não se culpe por isso,
Deus nos dá esse direito.
Os conflitos da alma e do coração,
esses sim, merecem total perdão.



Certa vez uma grande amiga me falou:
"Eu preciso perdoar pra ser feliz"
É pra ela que dedico essa poesia.



sábado, 21 de maio de 2011

TREM DA VIDA


By Silvana Duboc - Fev 2001

Há algum tempo atrás li um livro que comparava a vida a uma viagem de trem. Uma leitura extremamente interessante quando bem interpretada.
Isso mesmo, a vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, agradáveis surpresas em muitos embarques e grandes tristezas em alguns desembarques.

Quando nascemos, entramos nesse magnífico trem e nos deparamos com algumas pessoas, que julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco, nossos pais. Infelizmente isso não é verdade, em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos do seu carinho, amizade e companhia insubstituível. Isso porém não nos impedirá que durante o percurso, pessoas que se tornarão muito especiais para nós, embarquem. Chegam nossos irmãos, amigos, filhos e amores inesquecíveis!

Muitas pessoas embarcarão nesse trem apenas a passeio, outras encontrarão no seu trajeto somente tristezas e ainda outras circularão por ele prontos a ajudar quem precise.
Vários dos viajantes quando desembarcam deixam saudades eternas, outros tantos quando desocupam seu assento, ninguém nem sequer percebe.

Curioso é constatar que alguns passageiros que se tornam tão caros para nós, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos, portanto somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não nos impede é claro que possamos ir ao seu encontro. No entanto, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já haverá alguém ocupando aquele assento.

Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas, porém, jamais, retornos. Façamos essa viagem então, da melhor maneira possível, tentando nos relacionar bem com os outros passageiros, procurando em cada um deles o que tiverem de melhor, lembrando sempre que em algum momento eles poderão fraquejar e precisaremos entender, porque provavelmente também fraquejaremos e com certeza haverá alguém que nos acudirá com seu carinho e sua atenção.
O grande mistério afinal é que nunca saberemos em qual parada desceremos, muito menos nossos companheiros de viagem, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado.

Eu fico pensando se quando descer desse trem sentirei saudades. Acredito que sim, me separar de muitas amizades que fiz será no mínimo doloroso, deixar meus filhos continuarem a viagem sozinhos será muito triste, com certeza, mas me agarro na esperança que em algum momento estarei na estação principal e com grande emoção os verei chegar. Estarão provavelmente com uma bagagem que não possuíam quando embarcaram e o que me deixará mais feliz será ter a certeza que, de alguma forma, eu fui uma grande colaboradora para que ela tenha crescido e se tornado valiosa.

Amigos, façamos com que a nossa estada nesse trem seja tranqüila, que tenha valido a pena e que quando chegar a hora de desembarcarmos o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem a viagem.

NAVEGUE

 

By Silvana Duboc




Navegue,
descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar,
o lugar deles é lá.
Admire a lua,
sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol,
se deixe acariciar por ele,
mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas,
apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva,
ela quer cair e molhar muitos rostos,
não pode molhar só o seu.
As lágrimas?
Não as seque, elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama?
Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui,
a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda,
se o século vira,
se o milênio é outro, se a idade aumenta,
conserve a vontade de viver,
não se chega a parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas
que encontrar, e as portas também.
Persiga um sonho,
mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma
com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história,
seja ela qual for.
Dê um sorriso
para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos,
mas não permita que eles o consumam.
Olhe para o lado,
alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça
nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo,
só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos,
mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume
com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Caso sinta-se só, olhe para as estrelas:
eu sempre estarei nelas.
Não estão ao seu alcance
mas estarão eternamente brilhando para você!

*********

Comentário da Autora:
Essa poesia circula na internet e aparece em diversos sites adulterada e creditada a Fernando Pessoa, por esse motivo consta dessa postagem o registro oficial da mesma para que não restem dúvidas:

Registrada na Fundação Biblioteca Nacional
Ministério da Cultura - Escritório de Direitos Autorais
Rua da Imprensa 16 - sala 1205 - Centro - Rio de Janeiro
Registro - 309.788 - Livro - 564 - Folha - 448
Analisado por - Pedro José Guilherme de Aragão
Assinado por - Célia Ribeiro Zaher- Diretora do Centro de Processos Técnicos.
Navegue - Autoria: Silvana Duboc.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

NÃO SOMOS PARECIDAS...



By Silvana Duboc



Era pra ser tudo diferente,
mas foi tudo ao contrário entre a gente.
Era pra nunca termos nos conhecido,
nunca termos trocado um sorriso,
nem mesmo uma palavra
mas, de repente, por você fui abraçada.
Apesar do abraço envolvente
era pra não termos seguido em frente,
era pra ter terminado tudo ali
e acabou vindo parar aqui.
O destino encarregou-se de transformar
o nada em algo que valia a pena cultivar.
Hoje temos uma história interessante
que começou com atropelos
e caminha emocionante.
Não, não somos parecidas,
mas para as pessoas serem amigas
precisam muitas vezes discordar
pois é a discórdia que consegue provar
que uma amizade não pode se sustentar
somente no ato de agradar. 
Hoje somos assim,
eu tenho uma metade sua
e você tem uma metade de mim,
ambas brilham como a lua
e cheiram como jasmim.
Um simples olhar é compreendido,
uma lágrima é facilmente decifrada
um sonho é dividido 
e uma vitória é comemorada. 
Hoje somos a prova irrefutável
que existe amizade inesgotável
e que não há lógica que possa explicar
quando o destino decide provar 
que corações pode manipular.
Hoje somos como um envelope que guarda uma carta,
próximas como medalha de ouro e medalha de prata,
somos como jardins com suas flores,
como corações que guardam seus amores. 
Hoje somos como casa que não pode existir sem teto,
como centímetros que juntos se transformam em metros,
como o sol, a chuva e o vento
que dependem da meteorologia e do tempo. 
Hoje somos como a árvore e sua raiz,
como as estradas de um país
que se cruzam e se entrelaçam.
Hoje somos causa e efeito,
qualidades e defeitos,
mil sentimentos dentro do peito.
Não, não somos parecidas
mas fomos feitas uma pra outra na medida.
Quando uma desliza a outra a escora,
quando uma está feliz a outra comemora. 
Estamos longe da perfeição
mas temos um tesouro, nosso coração.
Eles são envoltos em sinceridade
e é isso que sustenta nossa amizade. 
Não, não somos parecidas,
mas eu sou a água e você é a comida, 
eu sou a razão e você a emoção,
eu sou a realidade e você a ilusão,
eu sou o freio e você a velocidade,
eu sou a calma e você a ansiedade.
Não, não somos parecidas,
mas dividimos uma mesma vida,
desde as marcas felizes até as feridas,
desde as conquistas até os fracassos,
desde a força até o cansaço,
desde o primeiro até o último passo.


IRRETOCÁVEL



By Silvana Duboc



Tenho cabelos vermelhos, pintados, 
para esconder os fios brancos.
Não me lembro exatamente em que 
ano eles começaram a branquear.
Tenho algumas rugas em volta dos olhos, 
também não me recordo quando
elas começaram a aparecer.
Tento disfarçá-las, tantas novidades 
no campo da dermatologia, 
achei por bem aproveitá-las.
Do corpo não cuido quase, 
só recentemente entrei para uma 
academia por ordem médica. 
Ele me disse que na minha 
idade preciso de exercícios. 
Mais falto do que vou, 
não gosto de fazer ginástica.
Das minhas unhas cuido semanalmente, 
penso que elas são uma porta de visita. 
Unhas maltratadas causam 
uma péssima impressão.
De uns dois anos pra cá descobri os 
cremes e aí compro um aqui, 
outro ali e no final não uso nenhum, 
mas compro, só de olhá-los na prateleira 
já percebo que as rugas se retraem.
Sou assim, vaidosa, 
mas não sou em excesso, 
penso que sou na medida certa, 
na medida correta para uma mulher.
Enfim os anos passam e as 
marcas que eles deixam em nós, 
não temos como conter.
Nem pretendo isso.
Acho que cada marca que meu corpo
carrega tem uma linda história.
Às vezes me pego na frente do espelho 
descobrindo uma nova ruguinha 
e já me coloco a pensar o que a causou.
Depois reencontro com outra que já está lá 
vincada há anos e me recordo que ela 
apareceu quando perdi um grande amor.
Poderia enumerar também a história 
de cada fio de cabelo branco. 
Foram filhos, maridos, 
amigos que colocaram eles ali. 
Não quero me desfazer 
de nenhuma dessas marcas, 
apenas amenizá-las, 
acho que mereço isso. 
A vida me deve isso!
Atualmente a parte que merece mais 
atenção minha tem sido a cabeça. 
Tento todos os dias colocá-la no lugar, 
equilibrá-la, alimentá-la 
com sonhos e alegrias. 
Corpo e mente caminham juntos, 
se um estiver em estado lastimável o 
outro, provavelmente, vai se deteriorar.
Não escondo minha idade, 
não adiantaria falar 
que tenho trinta e cinco 
e apresentar uma 
filha de vinte e sete. 
Portanto eu confesso, 
tenho quarenta e oito anos. 
Metade deles, bem vividos, 
a outra metade  muito sofridos. 
Mas é exatamente aí que está 
o encanto da minha idade. 
Conheci de tudo um pouco, 
das lágrimas aos sorrisos e ambos me 
fizeram ser essa pessoa que sou hoje. 
Ficaram as rugas no rosto e na alma, 
mas também ficaram sorrisos em ambos. 
Minhas rugas mais bonitas são aquelas 
marcas de expressão que eu 
adquiri por tanto sorrir,
muitas vezes, quando o coração chorava.